Passando a Limpo

“ Que tristes os caminhos, se não fora
  A presença distante das estrelas! “
 (Mario Quintana)

Uma das coisas que aprecio muito ao usar o computador é a facilidade como podemos corrigir, apagar, reformatar textos, construir e reconstruir ideias, entre outras tantas coisas que podemos processar de forma ágil e eficaz — tabelas, cálculos, planilhas, imagens, etc.

Como isso me tem sido útil como profissional e escritora! Lidando com tantas inovações e possibilidades algumas afirmações parecem sem sentido ou, no mínimo, reveladoras. Apesar do que a afirmação possa indicar, gosto da ideia do “passar a limpo”.

Mario Quintana, afirma: “Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo”.Creio, mesmo, que precisamos ficar atentos a isso. O agora é importante demais e não se repete por isso deveríamos vivê-lo com a intensidade e responsabilidade devida. Os fatos, sentimentos, palavras, experiências e eventos do agora nos constituem e jamais será possível corrigi-los, apagá-los, reformatá-los, reconstruí-los no mesmo tempo que se constituíram. Só podemos, a posteriori, como lembrança, resignificá-los. O que passou podemos significar de múltiplas maneiras. Podemos explicar de múltiplas maneiras. Mas, sempre teremos de lidar com o evento fundante. Este jamais poderemos passar a limpo.

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Perplexidade

Depois do silêncio, o que mais se aproxima de expressar o
inexprimível é a música.
Aldous Huxley

Algumas vezes não sabemos dizer o que sentimos, porque o que sentimos ainda não é possível de compreensão. O sentimento é um verso iniciado, que pausou na reticência e ficou inacabado a espera do próximo tempo, da próxima palavra, do próximo parágrafo.

Nem sei se necessariamente precisamos saber ou explicar o que sentimos. Alguns sentimentos não são passíveis de traduções vocabulares. Podem ser expressos pela música, pela pintura ou escultura – alguma forma de arte que não ouse aprisionar os sentidos. Talvez, pela poesia, que por poder dar asas às palavras, livra-as das tentativas de compreensões elementares – aquelas que por consenso, pensamos ser possíveis de apreensão absoluta.

Por sinal, preciso confessar minha diversão secreta: rir das certezas. Acho engraçado nossas tentativas humanas de buscar respostas verdadeiras, que façam sentido, defendendo-as com tal convicção que a um outro olhemos com estranhamento. Apegamo-nos a nossos argumentos como se fossem vitais e os defendemos com tal arrogância, que nos esquecemos de nossa condição humana, repleta de efemeridade.  E, nosso olhar pretende ser o ultimo e derradeiro, sem que compreendamos que é limitado as nossas lentes. Tomamos nossas lentes como última possibilidade, quando é apenas uma possível, dado o contexto – a experiência, o tempo, a cultura e as manipulações dessas, em sua perspectiva sócio, política e econômica, sem falar de nossa própria condição existencial, transversalizada por nossas experiências de vidas e mortes, amparo e desamparo, realizações e frustrações, desejos de poder e resquícios de submissões, de enquadramentos, de desejo de pertença e acolhimento.  O que posso dizer que não seja a partir de minha possibilidade? O que posso interpretar a não ser a partir das condições de meu mundo? E, existem mundos tão pequenos a apertados!
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