Um Diamante

É a enorme pressão a que é submetido
Que transforma o que outrora foi um simples e rejeitável carvão
Em um cobiçado e valioso diamante. 
(Augusto Branco)

Faz de tua alma um diamante. Por cada novo golpe uma nova face,
para que um dia ela seja toda luminosa.
(Rogelio Stela Bonilla)

É própria da natureza humana a necessidade de dar significado à vida. Sentimos um imperioso desejo na alma de sermos valorosos. Os trabalhos, empreendimentos, artes e demais realizações são formas de transcendermos nossa humanidade, marcando a contribuição e passagem de cada um no mundo, para além de uma efêmera existência. Dar sentido ao que somos, ao que fazemos, ao que realizamos e construímos, é algo que nos ajuda a viver com propósito, cultivando a motivação e a esperança.

As mais belas respostas sobre o sentido da vida, sobre o sentido de minha própria vida, com certeza, não aprendi através de teorias, discursos ou com as mais diversas elucubrações teológicas ou filosóficas. As mais belas respostas, eu senti no corpo e na alma através de singelos gestos de amor. E, todo sentido da vida percebi contido num precioso agora, vivido e partilhado com pessoas que também deram sentido à sua própria existência, estendendo suas mãos para além de si mesmas. Percebi que o sentido que damos à vida se constitui em relação. É através de nossas relações, num processo de identificação e diferenciação, que damos sentido à nossa própria existência.

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Amor, Um Verbo Em Ação

Normalmente falamos em amor, como um sentimento impar, diferenciado. Mas, me recordo que amor, tomando sua definição tem termos bíblicos, é um verbo em ação – amar. E amar implica um conjunto de ações que demandam tempo, investimento de energia, disponibilidade, partilha, presença e pertencimento. Desde um abraço acolhedor, a uma escuta atenta, uma convivência autêntica e gestos cotidianos de cuidado e carinho, amar precisa ser um verbo conjugado no presente, na concretude da vida.

Ama quem caminha ao lado, quem segura à mão, quem está presente, quem apoia e compreende. Ama quem faz planos em comum e os ajuda a construir. Ama quem está disponível e atento as transformações de cada dia, e seja na tristeza ou na alegria, na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza, nos desafios ou grandes alegrias, ama de igual modo, com a mesma disponibilidade, encanto e paixão. Ama quem cultiva, cuida, reinventa a convivência. Ama quem sabe que desafios fazem parte e jamais deixa que as divergências mudem ou afoguem o sentimento, na indiferença ou no distanciamento.

Amar implica em crescer como pessoa, ser humano, num exercício constante de uma escolha que já está feita e não pode ser abalada pelas vicissitudes da vida – nas mudanças, alternâncias, instabilidades – permanece constante, como um porto seguro, apesar dos eventuais caos existênciais.

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Lei da Não Gravidade

Aprendi a não me deixar abater gravemente pelos impactos de nenhum desafio. Obviamente, sinto-me ansiosa, dolorida, irritada, preocupada e mobilizada como todo ser humano que sofre com as coisas próprias de nossa humanidade. Mas é bem isso: aprendi que há coisas que nos são próprias — “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo” — que são inevitáveis à nossa condição de seres humanos. Enquanto existentes, vamos sofrê-las. A grande questão é: Como sofrê-las?

Há algum tempo rompi com a ideia de que a felicidade de viver está em chegar a um estado idílico, maravilhoso, ideal. Também crer que um momento assim vá existir, no futuro, nunca me consolou. Os desafios são aqui e agora. O melhor foi ter compreendido a importância da resignação, ou seja, de renunciar a ilusão de um estado de perfeição onde apenas o prazer e a realização fossem a tônica das sensações existenciais de plenitude. O que é pleno também é, inúmeras vezes, desafiador, frustrante, incomodativo, sofrido, angustiante. Com certeza, cada um desses sentimentos convive com nossas realizações, alegrias, conquistas, deliciosos afetos e vitórias.

A vida plena tem inúmeras faces: antagônicas, contundentes, conflitivas, doloridas e igualmente apaixonantes; realizadoras, comoventes, felizes e amoráveis. O grande absurdo — adjetivo latino absurdus, “desagradável ao ouvido”, e, por extensão, incompreensível, sem sentido, contraditório — realmente está em como cada uma dessas faces se interpenetram todo o tempo, compondo um único rosto: o meu rosto, o rosto de minha vida.

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Riscos

Talvez um dos nossos maiores desafios seja decidir que rumos dar à nossa própria vida. Seria fácil se fossemos algo — um ser que em processo de evolução e amadurecimento…

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Força e Esperança

Você nunca sabe a força que tem. Até que a sua única alternativa é ser forte.
Johnny Depp

Quando li esse pensamento, de Johnny Depp, pensei comigo: a força e a esperança como uma única última alternativa é uma escolha que se faz e, com certeza, faz toda a diferença em nossas vidas. Algumas pessoas não escolhem nem a força nem a esperança, como última alternativa. Elas não apenas se abaterão, se fragilizarão frente aos vendavais da existência. O fato de não perceberem alternativas, lhes consumirá a alma.

Todos nós enfrentamos dificuldades em um momento ou outro.  É próprio de nossa existência que tenhamos momentos felizes, mas também fracassos, decepções e revezes. Como enfrentamos esses momentos pode fazer toda a diferença.

Um filósofo, em especial, debruçou-se sobre a situação da dor: Nietzsche. Ele considerava os infortúnios algo vantajoso na vida. Escreveu: “A todos com quem realmente me importo, desejo sofrimento, desolação, doença, maus-tratos, indignidades, o profundo desprezo por si, à tortura da falta de autoconfiança, e a desgraça dos derrotados”. Forte, não? Ele acreditava que o sofrimento e o fracasso poderiam nos auxiliar na construção do caminho para o sucesso, considerando que tais vivências, quando superadas, nos tornariam pessoas diferenciadas.

Às vezes nossos desafios são imensos. Como escalar uma grande montanha, repleta de obstáculos. No entanto, no alto de uma grande montanha, após uma árdua subida, a vista é sublime. É dali que enxergamos a mais bela paisagem. Niestzche afirmava que para conseguir as coisas que valem a pena é preciso sofrer. Imagine a preparação de atletas, a disciplina, as horas incansáveis de treinamento. Algumas vitórias são tão significativas que não há dor ou desafios que as ofusquem.

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Sobre Perdas

A experiência de perder alguém que amamos traz muita dor e desorganização e nos coloca diante de intensas e difíceis emoções que podem dar a impressão de que a vida nunca mais será a mesma. E de fato não será. Será outra porque aquele que passa por um processo de perda é modificado por esta vivência, passando por um processo de luto que o leva a construir novos significados tanto para as experiências passadas, quanto presentes, transformando as vivências futuras. Ao mesmo tempo em que passar pelo processo de luto é doloroso, pode ser também fortalecedor, pois ainda que não houvesse o desejo de passar por ele, é possível se restabelecer e crescer com esta experiência.

Se sempre ouvimos que a única certeza que temos é que um dia vamos morrer, também é certo que as pessoas para quais somos importantes vivenciarão um luto: o luto é um processo que pode ser adiado, mas não evitado, sendo, portanto, uma experiência tão universal quanto à morte.

Outras perdas importantes que não por morte igualmente nos abalam e geram um profundo sofrimento, sendo necessário viver um processo de luto para que possamos nos reorganizar. O luto é uma possibilidade de gerar um caminho positivo diante da experiência negativa da perda. A vida não será mais a mesma, mas além da experiência da perda podemos carregar em nossa bagagem a experiência de superação e a possibilidade de reconstrução de novas relações e novos sentidos para a vida.

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Desejo e Destino

“O que for teu desejo, assim será tua vontade.
O que for tua vontade, assim serão teus atos.
O que forem teus atos, assim será teu destino.”
(Deepak Chopra)

Reajo a uma afirmação de pessoa amiga que diz que minhas palavras são “sutis e contundentes”, porque “batem com as certezas que a gente tem incrustadas na alma, mas que a gente por vezes prefere dissimular”. É certo que cada um lê os textos e a vida a sua própria maneira. Mas provocação é provocação e resolvi comentar.

Inicio meu texto com a reflexão do Chopra, porque ela me parece ter a ver com a observação feita. Antes de comentá-la gostaria de retomar um comentário feito por Juan Luis Segundo, um teólogo latino-americano. Destaco algumas de suas observações no livro O homem de hoje diante de Jesus de Nazaré — fé e ideologia:

“O problema é a dificuldade que o homem parece ter de alcançar a felicidade. […] Quanto ao livre arbítrio, […] cada opção positiva (em sua intenção) se torna limitativa (em seu resultado). Em outras palavras, escolher um caminho é fechar-se aos outros. […] Fazer a experiência de um valor, passando pelas necessárias mediações para chegar a ele, significa tomar a decisão de ignorar para sempre as experiências que nos aguardavam em outros caminhos possíveis que não tomamos. […] Nossa liberdade, enquanto livre arbítrio, é como o dinheiro: ao comprar uma coisa perdemos, simultânea e necessariamente, a possibilidade de comprar todo o resto. […] A quantidade numerosa desse resto seria sempre preferível a qualquer unidade. Só que não há sistema que permita escolher ‘o resto’ e não a ‘unidade’. Assim está feito nosso livre arbítrio e assim é nossa condição humana.”

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Medo

Sei um segredo Você tem medo…”.
(Milton Nascimento)

 

Às vezes nos pegamos cantarolando alguma canção. É bom prestar atenção. Hoje cantava repetidamente isso: “sei um segredo, você tem medo”. É verdade, eu tenho. Muitos por sinal. Isso me fez recordar uma história que ouvi certa vez e marcou minha memória como referência para o enfrentamento de meus receios.

Um homem após procurar um trabalho que lhe permitisse sustentar sua família, encontrou uma oportunidade de trabalhar num circo como segurança noturno. Uma de suas tarefas era cuidar de um tigre. O seu posto ficava bem em frente à jaula e ele precisava alimentar o animal.  Ocorre que todas as noites o tigre rugia alto e seu coração acelerava. O forte animal batia nas grades da jaula, rugia e fazia barulho. O coração do homem disparava, suas mãos suavam, seu estômago doía e ele pensava como suportaria aquela situação. Pensava em sua família, seus filhos, e pensava como iria enfrentar o medo imenso, quase pânico, que dominava seu coração. No entanto, certa noite seu olhar medroso cruzou com o olhar do tigre e neste momento o animal se aquietou. Ao tirar o olhar dos olhos do animal esse voltou a rugir. Ele encarou novamente os olhos do tigre e o animal se acalmou. Ele descobriu que se encarasse os olhos do tigre, de frente, o animal se aquietava, se deitava e adormecia. Foi assim que ele conseguiu um jeito de permanecer em seu trabalho: Olhando seu medo de frente.

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Generosidade

Tudo o que somos incapazes de dar nos possuiu.
André Gide

Apesar de raramente termos consciência disso, não há dúvida de que a necessidade mais profunda do ser humano é dar-se.
Jacques Philippe

Dizeis: darei só àqueles que têm necessidade. Mas os vossos pomares não dizem assim.
Dão para continuar a viver, pois reter é perecer.

Khalil Gibran

E tu? Eu quereria que partisses. Não necessariamente de um lugar para outro,
mas para fora de ti. Para onde precisam de ti. Para te encontrares.
Paulo Geraldo

 

Incumbiu-me uma pessoa amiga de escrever sobre generosidade. Escrever sobre uma virtude tão nobre não é tarefa simples. Talvez o fora se a compreendesse como um gesto que se expressa apenas de modo exterior e alcança outro, carente, a quem  nos dedicamos de modo aparentemente desinteressado, realizando um bem – seja porque cremos que tal gesto purga a nossa própria alma de suas mazelas, as atuais e a que porventura tenham sido causadas em outras existências, seja por um imperativo categórico: assim deve ser.  Mas, penso… generosidade por dever, limita o ser. Tudo que “devemos fazer” se torna um condicionamento sem vitalidade, privado da beleza,  da espontaneidade e da paixão do ser autêntico. Creio: generosidade é algo para além disso.

A vida, que se derrama em momentos desconhecidos na gratuidade dos dias, me recorda que generosidade é condição fundamental da existência. A dádiva do tempo, em cada agora, me possibilita somar os anos e descortinar os contornos que quero dar a minha essência. Enquanto escapo da morte, da morte última, na morte de cada instante passado, esquecido, despedido das habitações de minha consciência,  vou gestando os dias. E, que seria da vida, da minha, se não a identificasse e diferenciasse ao estender as  mãos a um outro, o diverso, que me afirma com nome próprio e  me convida a consciência de existir, de ser possível?
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Perigo Cotidiano

Alguma coisa aconteceu comigo. Alguma coisa tão estranha que ainda
não aprendi o jeito de falar claramente sobre ela.”
(Caio Fernando Abreu)

Outro dia pensava, refletia, sobre as coisas cotidianas. Há imenso perigo em “cotidianizar”. É perigoso que nosso olhar se acostume. Que tenhamos a falsa impressão de saber, de possuir, de controlar, de ter realizado. Algo só é objeto de desejo enquanto inapreensível. Enquanto impossibilidade. Somos movidos por desafios. É a ausência que move nossa alma e não a presença.

A presença pode ser terna, meiga, doce, mas o encanto pode perder-se pelo costume. Embora não possamos passar duas vezes pelo mesmo rio — nem nós mesmos, nem o rio se repete, somos um outro a cada tempo e o mesmo se dá com o rio — constituímos uma impressão estática de pessoas e situações como modo de nos organizarmos e suportarmos a constante transformação de todas as coisas.

Uma relação pode ser intensa e mobilizadora, enquanto descoberta, admiração, maravilhamento. Enquanto convite, possibilidade. Seria bom que pudéssemos viver o pertencimento sem nos acostumar, jamais. Mas temo que constituir costume, como uma defesa tranquilizadora contra a mutabilidade da existência, seja um desafio insuperável da natureza humana. Por isso, às vezes, penso que é a impossibilidade a grande mágica que eterniza uma paixão. Esta subsiste como desejo entre o tempo e o espaço, numa certa virtualidade atemporal. Ao não limitar-se as fronteiras da convivência cotidiana, e a seus desafios próprios de mortais, a paixão se mitifica no espaço da transcendência, pelo desejo de ser, para além das nossas quimeras tão humanas.

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