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Passando a Limpo

“ Que tristes os caminhos, se não fora
  A presença distante das estrelas! “
 (Mario Quintana)

Uma das coisas que aprecio muito ao usar o computador é a facilidade como podemos corrigir, apagar, reformatar textos, construir e reconstruir ideias, entre outras tantas coisas que podemos processar de forma ágil e eficaz — tabelas, cálculos, planilhas, imagens, etc.

Como isso me tem sido útil como profissional e escritora! Lidando com tantas inovações e possibilidades algumas afirmações parecem sem sentido ou, no mínimo, reveladoras. Apesar do que a afirmação possa indicar, gosto da ideia do “passar a limpo”.

Mario Quintana, afirma: “Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo”.Creio, mesmo, que precisamos ficar atentos a isso. O agora é importante demais e não se repete por isso deveríamos vivê-lo com a intensidade e responsabilidade devida. Os fatos, sentimentos, palavras, experiências e eventos do agora nos constituem e jamais será possível corrigi-los, apagá-los, reformatá-los, reconstruí-los no mesmo tempo que se constituíram. Só podemos, a posteriori, como lembrança, resignificá-los. O que passou podemos significar de múltiplas maneiras. Podemos explicar de múltiplas maneiras. Mas, sempre teremos de lidar com o evento fundante. Este jamais poderemos passar a limpo.

Não dá para viver de qualquer maneira e achar que por isso somos vítimas do destino. Não dá para “deixar a vida nos levar”, e nos sentirmos injustiçados pelos desígnios do destino. Não dá para ficarmos inertes frente à constituição de nossa própria existência. Não podemos nos omitir de nós mesmos, do que em cada tempo, nossos pensamentos, palavras e ações, possam significar na constituição de nossa história como seres humanos. Até a omissão é um posicionamento definido e assumido. Não agirmos é opção de ação. Entregar os pontos, é opção, é escolha. Os nossos tempos, quer de ação, determinação ou omissão, são marcados definitivamente como parte de nossas histórias e retomando Mario Quintana, não devemos fazer de nossa vida um rascunho, por que poderemos não ter tempo de passá-la a limpo.

Embora consciente de tal perspectiva, creio que há algo que precisamos passar constantemente a limpo. Nossas motivações interiores – nossos pensamentos e sentimentos. Aquilo que nos determina. Revisitá-las parece-me significar reorganizar os rumos que queremos dar a existência. Antes da ação, creio que há a motivação. Ela pode ser traiçoeira. O que me motiva? O que me leva a agir de certo modo e não de outro. O que me faz interpretar, significar, ler e interagir com as situações de uma forma e não de outra? Quais os meus aprionamentos interiores e porque os tenho? O que posso, o que não posso e por quê? Como me justifico? Quais minhas impossibilidades e como eu as explico? Que permissões me dou? O que quero fazer de mim? Sobre essas questões  afirmo: creio que precisamos constantemente passar a limpo.

Hoje eu ouvi de uma pessoa que admiro imensamente a citação da seguinte frase do Quintana: “A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão”.  Pois acho que  a gente precisa passar essas questões a limpo para acender estrelas em nossas almas. Talvez não por medo da escuridão, que pode aguçar outros sentidos, mas porque precisamos de marcos para constituir rumos novos e mais realizadores para o que queremos fazer de nós mesmos. As estrelas trazem luz e pontos de referência. Olho e sei para onde quero caminhar. Isso é importante para seguir adiante.

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