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Permita-se!

Quero usar uma metáfora para ajudar a pensar a construção de um texto,  livre expressão de seus sentimentos:
Faça amor com sua alma – escreva com paixão.

Escrever pode ser uma expressão sem condicionamentos, sem releituras e correções, uma expressão primal, instintiva, de criatividade. Você não pensa para escrever, você pensa escrevendo… criando, permitindo-se gestar a palavra no movimento, no convite de uma palavra a uma outra, na exata cadência de sua alma. Deixa fluir. Escrever é fruição de sua interioridade, como se acariciasse os sentidos e significados de suas percepções.

Em situações usais, há o texto que falamos, o que escrevemos o que expressamos e o texto que o subjaz, silenciado, que repassamos interiormente, fazendo algumas censuras. Todo o dito contém o não dito. Em geral, falamos o politicamente correto, enquanto nossa alma borbulha de outras impressões e interlocuções, as quais  só nos sabemos. Estamos presentes na cena, mas somos mais que ela. Preste atenção em seu cotidiano. Quantas percepções e sentimentos ocorrem para além do que você manifesta?
Imagine escrever cheio de reservas, de apreensões e censuras. Ficará truncado, travado, planejando o que pode ou não expressar, perguntando a si mesmo por seu desempenho, pela percepção do outro e seu julgamento. Não se libertará. Ao contrário, imagine que se permita, que se entregue ao momento, que se permita a invenção, sem preocupação, a não ser deliciar-se no prazer de sua expressão,  sem que sobre ela exerça censura. Expressão livre, solta, intensa e verdadeira de sua alma.

Faça amor com as palavras. Beije-as com seus lábios ávidos e acolha sua expressão espontânea sem cerceamento… Pontue-as na cadência de seus sentimentos, como se a pontuação fosse seus gestos de amor.  Convidando-as a um novo sentido, liberte-as das convenções… Esqueça as regras gramaticais.  Em outro tempo, você precisará pensá-las. Na hora da criação, não. Deixe que as palavras fluam livremente, experimente, ouse experimentar. Transforme-as, mas sem planejar, transforme-as pela permissão de deixá-las nascer de sua alma, como o desejo nasce de suas fontes interiores, como o desejo do gozo, que quer transbordar como realização.

Imagine um texto poético… Imagine o poeta:

Você deságua em mim
E eu oceano
E esqueço que amar
É quase uma dor…

Sinta… “você deságua em mim, e eu oceano… “ sentidos para além das convenções. Convite à imaginação, a interpretação…

O seu amor
Reluz
Que nem riqueza
Asa do meu destino
Clareza do tino
Pétala
De estrela caindo
Bem devagar…

Ou ainda…

Amanhã
Outro dia
Lua sai
Ventania abraça
Uma nuvem que passa no ar
Beija
Brinca
E deixa passar…

Imagine a emoção dessa criação… sem aprisionamentos. Imagine a ventania que abraça a nuvem que passa no ar… Ou viajar, no seu mar de raio…

Algumas músicas e textos poéticos são formas de fazer amor, com paixão, pura comoção que vai gestando a vida, para além das convenções e aprisionamentos, e por isso podem parir arte… – o dionisíaco, o inapreensível do ser. O vinho, o embrigar-se, não o embebedar-se, mais o embriagamento dos sentidos, aguçados, mais conscientes – uma leve tontura, uma percepção para além de uma realidade das primeiras impressões.

Pense nisso e permita-se.

Christina Rocha

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