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Relações

Toda relação humana é um processo muito interessante de aprendizagem recíproca. Jamais, em minha trajetória, vi relações humanas desprovidas de conflito, de aprendizagens, de necessidade de compreensão mútua, de desafios a serem superados e expectativas reconstruídas. Jamais vi, seja com relação a famílias, casais, filhos, namorados ou amigos, algo que pudesse parecer com um “ideal”  de harmonia, reciprocidade, respeito, consideração, cumplicidade, sem que isso se constituísse também em meio a inquietações, estranhezas, dúvidas, mal-entendidos.

Sempre vi exercícios de existir, mistos de alegrias e tristezas, encontros e desencontros, aproximações e distanciamentos. As pessoas que conheci, que demonstram felicidade, entendem a relação como algo assim: desafio e possibilidade. Algo que se gesta, em meio a momentos de caos, de dúvida, mas também de teimosia e desejo de superações.

Nossos desencontros, muitas vezes são projetados como desencontros de um outro com o qual nos relacionamos. Mas a maioria das vezes nossos desencontros são  reflexos de nossos próprios conflitos e dificuldades relacionais. Algumas vezes somos inseguros com relação às nossas próprias possibilidades de amar. Se nos deixarmos ser prisioneiros de nossos próprios muros, não conseguimos constituir uma relação satisfatória. Se tivermos medo de amar, medo de falar sobre nosso amor, medo de apostar em aproximações, de sermos invadidos, medo da fragilidade e se fugimos, nos distanciamos e nos perdemos do encontro com um outro com quem poderíamos constituir algo belo e significativo. É comum que as pessoas subestimem os momentos felizes enquanto as dores são superestimadas. Valoriza-se demais a dor, enquanto os sorrisos e alegrias são esquecidos.

Melhor seria podermos falar de ganhos. De aprendizagens constituídas, de desafios superados, de mãos que somam ao se encontrar. Melhor seria que fôssemos menos graves em nosso jeito de olhar e acolher o outro e fôssemos mais amorosos, humorados, que conseguíssemos em vez de construir altos muros de defesas, construir pontes, abraços e encontros.

Não existe mesmo nenhuma relação perfeita. As relações existem do nosso tamanho e jeito de amar. Somos imperfeitos e as relações são imperfeitas. Há pessoas que conseguem fazer dessa constatação algo feliz. Outras fazem dessa constatação algo muito triste e solitário.

Cada um de nós sabe apenas de si. A decisão é sempre algo muito pessoal. Cada um de nós precisa decidir o que quer fazer de suas experiências de amar (…)

(Recorte do Livro OUTRAS FACES)

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