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Recriação

Somos o somatório de nossas escolhas. Cada dia a vida nos apresenta inúmeras possibilidades. Uma pequena escolha nos abre ou fecha portas, de modo que pode determinar os rumos de toda uma vida. Não podemos prever as conseqüências das decisões que tomamos, mas é bom sabermos que sempre têm repercussão presente e futura.

Se estivermos insatisfeitos com o que temos feito de nós, cabe a nós mesmos nos reconstruir. Se estivermos infelizes, cabe a nós constituirmos novos rumos para o que somos e para o modo como agimos.

Quando somos vítimas de nossas impossibilidades estamos agindo de um modo covarde perante a vida.

Recordo-me da musica, aquela: “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim…” Gabriela!!! Isso parece uma novela. Tem pessoas que parecem novelas de crises, insatisfações, inconstâncias, indefinições, falta de foco, falta de rumo, falta de clareza do que sentem, pensam e querem para si. O que buscam nunca as satisfaz, porque as necessidades que sentem são existenciais. Nada do que temos de fato nos constitui. Nossos tesouros habitam nossas almas.

Algumas pessoas passarão a vida pobres em realizações, porque são omissas frente a seus próprios desafios, projetando externamente as culpas e justificativas para suas ações. Discurso e prática desconectados, palavras jogadas ao vento. Busca-se substância, conteúdo, e encontra-se um imenso vazio. Pessoas que não se recriam, que não se reinventam, pessoas que não assumem o desafio de sua própria invenção. Vítimas do passado, fracas, impotentes, não conseguem, também, construir um presente mais realizador. Não souberam romper, não souberam soltar as algemas, perpetuam as ancoras repetindo para si mesmas os mesmos discursos, medíocres ilusões que justificam a perpetuação dos mesmos comportamentos.
Com certeza, não quero ser assim. É um desafio ser diversa. Nossos maiores desafios e realizações não são concretos. Pertencem ao âmago de nosso ser, estão relacionados à nossa razão para viver.


Recordo-me sempre do poema de Fernando Pessoa, com seu impacto constante, cada vez que leio:

“Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi no espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.”

O processo de recriação não é simples, nem fácil, mas se o percebemos necessário, torna-se primordial – algo que tem a ver com a busca dos significados mais profundos de nossa existência.

A experiência de fé é uma referência em nosso processo de transformação.

Três coisas têm se tornado muito relevantes em minha caminhada: “Pedir”, confiando que em minha trajetória humana há propósitos maiores que nem sempre posso compreender e que existe uma dimensão extra-humana que conduz meus passos e caminhos. Tenho de manter em minha alma a confiança mesmo quando não tenho total clareza das implicações que algo possa ter para minha vida. “Buscar”, sabendo que a ação é algo que cabe a mim. Preciso buscar alternativas fazendo o melhor que posso, usando as aprendizagens e os erros para constituir acertos. Jamais duvidar que o que me acontece não é em vão. Estou construindo uma história de vida e preciso me esforçar para fazer o meu melhor – aprender, me reconstruir, mudar o que é necessário, aprender, superar meus limites, ir à luta, a cada dia, buscando portas e constituindo novos caminhos. “Bater”, fazendo contatos, sondando possibilidades, explicitando meus desejos de realização. Sei que jamais devo me acomodar a impossibilidades. Problemas são desafios e oportunidades. Tudo é uma questão de ângulo de percepção.

Em alguns momentos pode parecer que nossos esforços não nos ajudam a obter resultados, mas sei, por experiência, que mesmo quando uma grande pedra parece imóvel, algo está acontecendo – há motivo para que exista em minha vida.  A vida se gesta em silêncio e, às vezes, em aparente imobilidade. Todos nós queremos respostas as nossas inquietações humanas. Nem sempre sabemos perceber que há tempo para todo propósito e há uma sabedoria suprema guiando os nossos agoras. Confiar realmente é um desafio e uma bela aprendizagem.

 

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