Sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável,
pelo socialmente aceitável, pelo honroso. Opte pelo que faz o seu coração vibrar.
Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências.
Osho
Um grande desafio que vivenciamos em nossa comunicação é conseguirmos dizer de modo claro, explicito e ao mesmo tempo respeitoso e gentil, o que queremos ou não, o que concordamos, ou não, o que permitimos ou não, a partir daquilo que de fato nos mobiliza, a ponto de fazermos as nossas escolhas, devidamente alinhados com o que desejamos em nosso coração.
Ao longo do tempo, aprendemos que alguns comportamentos são socialmente mais aceitáveis que outros, considerando as expectativas que as pessoas têm sobre nós ou sobre como acreditamos que “deveríamos”’ nos portar. A construção desse modo “desejável” está relacionada a nosso espaço social – contexto socioeconômico e cultural, incluindo aspectos da dinâmica da religiosidade, tradição e modo de funcionamento afetivo familiar – comportamentos aprendidos.
Quando cultivamos ou queremos cultivar vínculos afetivos com pessoas que apreciamos, pelas quais temos afeto e admiração, tendemos a procurar agradá-las respondendo as suas demandas do modo que, pensamos, lhes seria mais agradável, a partir dos construtos que introjetamos ao longo de nossa história e experiências. Por exemplo, tendemos a aceitar a realização de atividades que não apreciamos, mas que fazemos porque nos foi solicitado, não pedimos um favor que é legítimo e do qual necessitamos, por nos sentirmos constrangidos, evitando “incomodar”, ou não manifestamos desacordo com relação a algo com que não concordamos, porque não queremos desagradar ou gerar conflitos. Enfim, desrespeitamos a nossa própria vontade, optando por alinharmos o nosso comportamento com aquilo que pensamos, é desejável ou esperado de nós.
Também pode ocorrer de estressarmos as nossas relações por postergamos decisões e respostas, por divagarmos, ou sermos evasivos, considerando nossa tensão interior entre a resistência a agirmos como acreditamos ser esperado e o que é efetivamente a nossa vontade, ou possibilidade. Temendo assumir o custo do desgaste de não atender a expectativa do outro, acabamos por realmente desgastar a relação por falta de efetividade em nossas respostas, comportamentos e ações. Pode ocorrer, inclusive, de acordamos algumas coisas, concordarmos, e posteriormente agirmos em desacordo, dada a tensão interior que vivenciamos entre o que pensamos ser desejável e aceitável e o que de fato queremos ou podemos fazer.
Já cantava Fagner, “sentimento ilhado, morto, amordaçado, volta a incomodar”. Os incômodos que sentimos por agir em desacordo com o que de fato queremos ou podemos, mais cedo ou mais tarde, atropelam nossas palavras e ações, com um tom indesejável, uma irritação desmedida, um comentário provocativo, que manifesta o que de fato se passa em nossa interioridade.
Exercício de sabedoria é conseguirmos dizer aquilo que preciso ser dito, na hora que precisa ser dito, do jeito adequado. Ou seja, conseguirmos ser assertivos. Subjaz a assertividade a compreensão de nosso direito de ser – pensar, sentir, agir, reagir – em conformidade com aquilo que de fato nos move a alma. Os nossos sins, precisam ser bem-ditos, os nãos, de igual forma. A essa percepção de poder ser – espontâneo, autentico, claro – deve acompanhar a paz de alma… Sem culpas, receios, cobranças… Mas, qual a melhor forma de nos expressar? Eu quero, eu penso, eu gosto, sim…não, concordo, discordo…, posso, não posso, quero, não quero, com um tom de quem está tranquilo consigo. A postura assertiva é manifestação de consideração por si, e pelo outro. É uma busca de estabelecer relações saudáveis e verdadeiras, a partir de uma conduta consistente.
E como o outro vai se sentir? Bem… isso cabe ao outro decidir. Se lhe quer bem, se entende o direito que cada um tem de expressar-se de modo fiel a própria alma, acolherá sua opção e expressão com respeito e consideração. Por que alguém precisaria perpetuar uma relação onde não há autenticidade e verdade? Isso seria sinal de alguma patologia a ser tratada.
Retomo o pensamento inicial: “Se houver alternativas, opte pelo faz seu coração vibrar”. É especial ser leal a própria alma – ser autêntico, verdadeiro, confiável, por ser capaz de exerce o poder de dizer-se com toda a sinceridade. O amor a qualquer outro ser humano só pode existir a partir de uma experiência bela e singular de amor próprio. Quem não se ama, precisa agradar, manipular, usar o outro para reforço a própria estima, portanto, terá dificuldade de ser assertivo e autentico. Afirmo, portanto, que a assertividade é uma manifestação de amor próprio e fundamental para a construção de relações humanas mais saudáveis e realizadoras.
Mas, existe uma aprendizagem impar que também precisamos exercitar: Acolhermos a real expressão do querer do outro, da percepção do outro, do sentimento do outro, com igual respeito e consideração – a que desejamos para nós mesmos.
Cultivar relacionamentos saudáveis, não é algo que ocorra sem alto nível de comprometimento humano e existencial, e maturidade. Precisamos ser capazes de revisitar nossos próprios comportamentos, avaliando-os, corrigindo-os. Precisamos ter decidido em nosso coração que a maior superação, o maior ganho, a maior virtude que podemos ter, é de sermos capazes de superarmos as nossas próprias dificuldades, nos tornando uma pessoa melhor, mas saudável, a cada dia. Ao final de nossa caminhada, partiremos com a plena sensação de termos feito o melhor que podíamos de nós mesmos.
Christina Rocha