Às vezes as palavras se esgotam. As muitas ocupações, talvez… Mas, também creio, porque perdemos contato com aquela parte de nós passível de tradução. E quando nenhum signo, mesmo que combinado em diferente formas, pode nos dizer, instaura-se o silêncio. Isso não é bom nem mal, nem é possível dizer que por si só seja significativo. Arte da vida. Algumas vezes nos falamos, outras nos silenciamos. Nos espaços de silêncio contatamos outras faces do que somos, mas ainda não foi desvelado. Gestamos o filho de nosso novo tempo.
Estamos precisando de tempo para parir algo que em nós está sendo gestado, mas ainda não foi amadurecido em sua forma plena. Sofro de um certo descompromisso com as palavras e as formas. Algumas vezes elas dizem muito de mim, outras vezes dizem de minha impossibilidade de dizer. Não estranho. Acolho. É mesmo assim. Não precisamos tentar nos explicar sempre.
Somos mesmo universos em mutação, em processo… caos que se organiza e gesta vida. Que em sua impossibilidade de apreensão é sempre mais, é sempre outra coisa ainda, e como diz o poeta “outra coisa linda”.
Lembro-me de Fernando Pessoa
“(…)Todos os ocasos fundiram-se na minha alma…
E eu deliro… De repente pauso no que penso… Fito-te
É preciso destruir o propósito de todas as pontes,
Vestir de alheamento as paisagens de todas as terras,
Endireitar à força a curva dos horizontes…”
Saúdo o silêncio… Como diz Pessoa (…) há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!…”
Sei que só é possível o encontro da gente com os próprios rumos da alma, na audaz decisão de navegar as paisagens inexistentes, mas que estão lá, escritas, marcadas, com ferro e fogo, nos territórios do coração.
(Christina Rocha)